Carta ao Peixe/ Writing to Mr.Fish

«Deus não nos deu um espírito de cobardia, mas um espírito de poder, de amor e de bom juizo.» «For God hath not given us the spirit of fear; but of power, and of love, and of a sound mind.»

Sunday 30 July 2006

O compromisso

(tenho consciência de que erro…)

Peixe-meu,

Para onde quer que vá e conheça eu mil pessoas, fico sempre expectante: onde estão essas pessoas que fazem o máximo para se apresentarem aprovadas e que não têm vergonha nem do emprego que conseguiram, nem das metas que ambicionam alcançar, nem dos sonhos que gostariam de ver realizados? Onde estão essas pessoas que se comportam da maneira digna quando admitem que as suas vidas são fruto das escolhas que fizeram?
Arranja-se sempre uma justificação para a mediocridade: na 2ª-feira, o motorista do autocarro parou o veículo para se assoar e, claro, chegou-se atrasado ao emprego meia-hora (na semana passada, o motorista olhou para uma boazona que ia na rua e atropelou um pombo – foi 15 minutos até vir o 112, claro, o chefe percebeu); na 3ª-feira, não se fez o relatório, porque foi impossível pensar fosse no que fosse devido à bufa mal-cheirosa do colega da contabilidade; na 4ª-feira, passou-se um sinal vermelho e chamou-se cabrão! ao condutor da frente quando ele deixou o carro ir abaixo; na 5ª-feira, sentou-se no lugar reservado e, quando entrou uma senhora muito grávida, olhou-se concentradamente pela janela da carruagem do metro; na 6ª-feira, o pedido de aumento salarial foi recusado e quando o cego pediu a esmola, pensou-se vai é trabalhar, que a mim não me dão nada!; no sábado e durante o jantar na casa da Elsa, criticou-se o dente torto do novo namorado da “fulana” enquanto se agitava “chiquérrimamente” o garfo; no domingo, discutiu-se com a mulher, porque ela não sabe preencher os documentos on-line do IRS e será necessário pedir uma ajudinha ao colega do escritório.
Ainda esta semana, o meu amigo A. M. de Castro dizia-me que em Portugal o corpo de Deus está adormecido.
O A. bem pode dizê-lo novamente e desta vez que grite: O CORPO DE DEUS ESTÁ ADORMECIDO!
Porque, quando se tem Fé sabe-se que somos filhos de Deus e que Deus é perfeito, Deus é Senhor e Rei.
E diga-me cá, peixinho-meu, o que se espera dos filhos de reis? Não é verdade que têm a melhor das educações, que aprendem e cumprem à risca as regras do protocolo? Não é verdade que vivem experiências que todos nós gostaríamos, mas apenas podemos sonhar? E não é verdade que tudo isso é ensinado, aprendido e vivido para que correspondam a todo o momento às expectativas da sociedade que exigirá deles uma governação sem mácula?
Pois, é verdade… como? Ah! Se se espera a perfeição dos filhos de reis, então o que esperará Deus?

1 Timóteo 2:15 Faze o máximo para te apresentar a Deus aprovado, obreiro que não tem nada de se envergonhar, manejando correctamente a palavra da verdade (…)
Filipenses 1:27 Somente comportai-vos da maneira digna das boas novas acerca do Cristo (…)

Renovo perante si e perante Deus o compromisso de fazer o máximo e de me comportar da maneira digna das boas novas, porque quero ser aprovado por Ele J

Sua
S.Star

Sunday 23 July 2006

MANTER, RECICLAR, DEITAR FORA

(à minha volta, recortes de revistas…)

Querido Peixe,

Dei-me conta de que nos processos de “reciclagem estrutural” tudo é objecto de catalogação: roupas, mobílias, acessórios, trabalho, emprego, memórias, amigos, amantes, família – nada escapa ao MANTER, RECICLAR e DEITAR FORA
.
Esta semana telefonei à D. Herrero Inácio, que já andava há tanto tempo a pensar nela e no bébé que está quase a nascer, mas o tempo gosta de nos ludibriar e coloca-nos no caminho e nas vontades barreiras – já se sentiu um atleta dos 100 metros barreiras completamente esgotado e a cortar a meta em último lugar?
Foi como me senti quando ela me disse tenho tantas saudades tuas!
Quando desliguei o telefone, olhei pela janela e lembrei-me de que afinal já nos conhecemos há quase 15 anos e parece que estamos na mesma, a mesma voz, a mesma vontade de nos abraçarmos. Não me recordo do dia em que a conheci, mas tenho presente o dia em que ela apareceu lá em casa juntamente com o namorado-que-tinha-a-mania-de-dar-carolos-na-cabeça-dela-cada-vez-que-não-concordava-com-ela e que me apanhou aos beijos-e-amassos com o Sr. 46; recordo-me da vez que fomos ao bingo de Cascais e ela, sem saber jogar, fez Bingo! e enfureceu os velhos que estavam a jogar há horas, e às dezenas de cartões, sem sorte; recordo-me do dia do seu casamento, que foi o casamento mais bonito a que assisti.
Tenho estado a renovar o guarda-roupa, a reciclar malas, tenho aproveitado as páginas de revistas para fazer capas de cadernos, tenho deitado fora revistas (depois dos recortes, claro) e catálogos La Redoute, tenho abandonado utopias e estou com ideias novas, abduzi pessoas, pintei as unhas de sparkeling pink orange e tornei-me fã da depilação brasileira.
Deitei fora e reciclei.
Hoje, limpei algumas canetas que eram do meu pai e do meu avô e lembrei-me da voz deles, das gargalhadas do meu pai, da minha mana a brincar comigo… vou manter para sempre esses momentos e a D. Herrero Inácio, custe o que custar, doa a quem doer.

Peixinho-meu, partilhe comigo a minha amiga e espreite
http://opasteldenata.blogspot.com

Pó-de-estrela,
S.Star

7 x 70

(em estado de perplexidade, não há maneira de pôr fim à “reciclagem”)

Peixe-encantado,

Ando eu pr’aqui a dissertar sobre paradigmas de vida e “reciclagens estruturais”, quando afinal há mais uma teoria (será que isto tem um fim?) – a teoria dos 7 anos.
Segundo me informaram, a vida (esqueci-me de perguntar se se trata da vida humana em particular, ou se da vida em geral) está organizada em ciclos de 7 anos e a cada passagem de ciclo ocorre uma mudança significativa. Parece-me que é isto, mais-coisa-menos-coisa.
É verdade que já tinha ouvido falar algo sobre este assunto, mas confesso que nunca prestei atenção pois o que ouvi na altura aplicava-se apenas aos casamentos. E recordo-me de pensar que isto não tinha jeito algum, olha lá, andam a discutir e vão separar-se, porque é “aquela” fase dos 7 anos, está tudo explicado.
Bah!
Imagina agora a minha perplexidade quando, numa sala de reuniões, ouço uma mocinha que traz na mão um isqueiro e um charro (afinal, era só um cigarro artesanal) dizer que tem 27 anos-e-meio e que está ansiosa para fazer os 28, porque quer ver a mudança dos 7 anos?!!
Eu semicerrei os olhos para dar aquele ar de hum-que-interessante-explique-lá-isso-melhor, mas cá p’ra nós foi um olhar de hã?-há-outra-teoria-para-explicar-cada-vez-que-fazemos-asneira-?.
O peixinho já deve calcular que meti-me em contas 0-7-14-21-28-35, graças a Deus que não percebo de matemática, caso contrário elaboraria {0x(7+14) / 21x(28-35)} e nem o fio de Ariadne me salvaria!
Sendo assim, saí da tal reunião a pensar que idade teria quando certos acontecimentos ocorreram… Aos 7 anos regressei de Londres, aos 14 anos soube o que é perder um avô, aos 21 desisti do curso de Direito e fui para História, aos 28 abri a minha editora e estou nos 35 em “reciclagem estrutural”.
Aos 6 anos diagnosticaram, finalmente, a minha doença. Tinha eu 31 anos quando o meu pai faleceu e esta foi, sem sombra de dúvida, a grande mudança na minha vida. Porque o meu modo de vida alterou-se por completo. Porque poderia ter renegado Deus, mas aprendi a Fé.

7 beijos x 70 anos = um amor pra toda a vida!
Sua,
Ser estrelita

Uma questão de styling

(continuo em “reciclagem estrutural”)

Peixe,

Lembra-se de que há cerca de 3 anos atrás confessei-lhe que estava apaixonada? Recorda-se, até lhe disse que desta vez não era pela vida, antes por uma pessoa?
A-p-a-i-x-o-n-a-d-a, fui admitindo devagar-devagarinho que isto de andar inflamada de paixão por alguém (sim, dessa que leva ao sexo desenfreado atrás de arbustos) era novidade para mim. Aconteceu tudo de repente (será que foi a fada-madrinha?), quando dei por mim aquele já não era o meu amigo – e fui partilhando lágrimas e risos, erros e êxitos, segredos e boatos, desilusões e expectativas.
E assim foi até há cerca de 2 meses.
Mais uma vez (desta vez mais-mais), de repente e sem aviso-prévio terminou tudo – se não fosse ter visto o episódio d’O Sexo e a Cidade em que o Berger termina com a Carrie por um post-it eu ainda estaria a pensar que só-a-mim-é-que-acontecem-destas-coisas (foi obra da sacana da fada-madrinha).
O certo é que aconteceu e que me obrigou a tomar decisões: porque ficar rendida à tristeza e andar de cara enrugada de tanto chorar por alguém que deixou simplesmente de falar comigo (a Carrie ainda recebeu um post-it) seria permitir que outrém decidisse por mim.
Enfrentei a sacana da fada-madrinha, disse-lhe é uma péssima stylish e que não percebe coisa alguma de automóveis (confundir uma abóbora com um carro é demais!).
O resultado, peixinho-dourado?
De guarda-roupa renovado (e reciclado!) e satisfeita por ter recordado a mim mesma de que sou uma mulher-e-pêras (ou qualquer outra fruta, que saborosa lá isso sou), sorrio quando me dizem que estou mais bonita!

Mil beijos,
Sua S.Star

(vou apaixonar-me outra vez, desta vez para sempre!)

Olé!

(em “reciclagem estrutural”…)

Peixinho-meu,

Já se deu conta de que passa-se a vida à espera de uma mudança radical na vida?
De repente, uma fada-madrinha com uma varinha de condão diz abracadábra e o quotidiano sem graça-e-sem-sentido passa a ter cores e todos os problemas são, pimpampum, resolvidos.
Claro que tudo isto aconteceria sem qualquer esforço, deseja a maioria das pessoas, porque acredita-se que já basta o penar diário da vida, viver para trabalhar e trabalhar para pagar as contas.
Crescemos e vivemos confrontados diariamente com este paradigma da vida – fazer cara-feia à vida cada vez que a vida prega uma partida, a sair de casa para o trabalho qual condenado arrastando uma bola de ferro presa ao pé, a cuidar da casa e da família como Jesus carregou a cruz até ao Calvário, e deitar com um dorme-bem-até-amanhã-se-Deus-quiser.
Se Deus quiser?? (é verdade, ponto de interrogação duplo, como o whisky)
Caramba!, então Deus deu-nos o livre-arbítrio e o melhor uso que se faz da vontade própria é deixar que outros decidam por nós?
Eu cá sempre gostei de decidir por mim… e nunca ia deixar que uma espertalhona duma fada-madrinha me batesse na cabeça com a varinha de condão, zás-pás (violência doméstica) para me enfiar num vestido com mangas de balão (piroso q.b.) e calçar sapatos de vidro (provavelmente made-in-china) que aleijam os pés e não resistem às exigências duma mulher moderna! E tudo isto, coche e cocheiros incluídos, com uma garantia máxima de um dia (violação dos direitos do consumidor)!!!
Claro que tomar decisões é algo que implica reflexão, ponderação e responsabilização – e é sempre mais fácil culpar outrém pelos erros do que assumir, peito aberto à crítica, que se é humano.
Mas, a perfeição do Homem só existe quando se aceita o desafio de pegar a vida pelos cornos (obrigada, Beatriz Costa) – e o segredo da vida é que se a pega não for de frente, então será de sernelha!

Olé!
(o touro caiu, rodo a capa, atire-me rosas vermelhas!)