Carta ao Peixe/ Writing to Mr.Fish

«Deus não nos deu um espírito de cobardia, mas um espírito de poder, de amor e de bom juizo.» «For God hath not given us the spirit of fear; but of power, and of love, and of a sound mind.»

Tuesday 21 April 2009

Ana G.

(regresso duma reunião... ou terá sido dum sonho?...)

Querido Peixe,

Penso em si todos os dias, sabemos que é verdade, mas o acumular de mails por responder cresce e antes que o Outlook entre em choque e leve ao bloqueio do pc (deveria escrever-se cp, não é? C de computador e P de pessoal) escolhemos dar vazão ao trabalho. Em detrimento de nós. De si. De mim.
E eu não devo ser menos importante do que o trabalho, nem o meu querido deve ser menos importante do que o trabalho, nem os nossos amigos, nem os nossos colegas, nem o mundo.
Porque é no mundo que nos inspiramos para acordar e voltar a adormecer. Porque é no mundo que encontramos o próximo amigo, o próximo amante, o próximo cliente. Não estou a dizer que deva acumular-se pessoas como se fossem algarismos todos seguidinhos ou letras juntinhas umas às outras na Cartilha.
Mas, se acrescentamos às nossas vidas o tempo como medida de valor quantitativa e qualitativa então deveríamos usar o mesmo método para o mundo e as pessoas.
Deveríamos fazer as contas às pessoas que conhecemos, às pessoas com quem falamos, às pessoas para quem sorrimos e que nos sorriem e depois somaríamos tudo e o resultado seria o número de inspirações que tivémos, ou o número de hipóteses que tivémos de sermos felizes/infelizes, ou um número de qualquer outro valor.

Fiz as contas: tenho 13564 dias de vida. O tempo, que deveria ser impossível de contar, consigo eu contá-lo. Foram 13
564 vezes que acordei para novos encontros. Sei precisamente que tive 13564 oportunidades de inspirar-me de novo e de forma nova.
Porém, não sei calcular o número que na minha vida corresponde àquilo que é o mais fácil de contar na vida - as pessoas.
Acredito que ninguém saiba calcular esse número, apesar de sabermos todos que somos aos milhões no planeta.

E isto faz-me pena, porque reparo que afinal não dei a importância devida às pessoas. Dou importância ao tempo, que só me faz ficar com mais rugas e com as maminhas mais descaídas (a gravidade é lixada, estou desejosa de ir à Lua e voltar a ver as minhas maminhas debaixo do queixo), mas não dei importância às pessoas, que me fazem rir e chorar, que me dão prazer e causam sofrimento, que me dão de comer (e algumas que me comem), que me inspiram e que me entediam, que me fazem feliz ou a mais infeliz das criaturas.

Claro está que por estas alturas o meu querido Peixe deve estar a pensar que cai, bati com a cabeça na calçada e tive um derrame cerebral... sim, porque ou isto ou deve pensar que mesmo burrinha das idéias para chegar a esta conclusão aos 13
564 dias de existência.
O certo é que sempre o soube, mas a distância entre a consciencialização e o seu exteriorizar é enorme!
No meu caso, 13
564 dias.
E foi hoje, no dia n.º 13564 que fui despertada para este facto. E justamente por uma pessoa.

Hoje, ao mesmo tempo que falava e ouvia, o meu cérebro processava todo este raciocínio e desejei abraçar esta pessoa até que ela se colasse a mim, em pura osmose. Já que me fez despertar para a importância de contar as pessoas, pensei eu, então quis ver em mim desperta a beleza e o éclan desta pessoa.
Pessoa maravilhosa. E ainda mais maravilhosa, porque me trouxe luz.

Por isso, querido Peixe, agradeço a Deus pela Ana G.
E também graças a Deus, porque não tenho de fazer a contagem a partir do zero :)))

Sua,
S.Star