Carta ao Peixe/ Writing to Mr.Fish

«Deus não nos deu um espírito de cobardia, mas um espírito de poder, de amor e de bom juizo.» «For God hath not given us the spirit of fear; but of power, and of love, and of a sound mind.»

Thursday 9 August 2007

Feliz aniversário, mana da minha vida!


Peixe d'oiro,

Hoje, a minha mana faz anos.
Numa época em que as ecografias eram um futuro à "Caminho das Estrelas", fui a primeira a saber que ia ter uma irmã (tenho destas coisas, de saber o que ainda não é real, mas que já existe...).
Por isso, a ansiedade era grande quando fui visitar a minha mãe à clínica: finalmente, ia conhecer a menina que me acompanhava desde alguns dias (o tempo das crianças é como o tempo de Deus: mil anos são 6 dias e 1 dia é a eternidade).
Lembro-me de estar sentada numa cadeira ao lado da minha titi, do meu pai estar de pé e de conversarem comigo, mas de não prestar atenção, porque queria entregar à minha mãe a rosa que responsavelmente segurava na mão. E eis que a porta do quarto se abriu... a minha mãe sorriu para mim e eu, espantada, conheci o meu bébé.
Desde então que o meu rosto se ilumina de cada vez que vejo a mana - aliás, a mami diz que quando a vejo abro a boca com o mesmo espanto que tive quando a vi pela primeira vez!
E acredito que sim, porque é isso mesmo que sinto de cada vez que a vejo, ou a sinto, ou a penso.
À parte de Deus, é o ser que mais desejo continuar a conhecer, que mais necessito continuar a conhecer e para isso tenho usado todos os meus sentidos, e capacidades, e recursos: porque ela está-me na pele.
Toda gente sabe o quanto eu gosto dela e é provável que até estejam cansados de me ouvir, mas o facto é que eu não me canso dela; o facto é que toda gente passa por mim e ela está comigo; o facto toda a gente se desinteressa e ela é eterna interessada.
E o interesse dela cativa-me: olho para ela e vejo-a criança a arrancar as pernas e os braços das bonecas para ver "como é lá dentro"; olho para ela a levar as mãos à cintura e admiro-me, porque reconheço o gesto do meu pai e lembro-me da imponência do meu avô; olho para a ela quando se ri e atira levemente a cabeça para trás e lembro-me das nossas brincadeiras; olho para ela a ter sucesso profissional e sinto-me realizada.

Olho para ela e sou feliz...

Ive got you under my skin
Ive got you deep in the heart of me
So deep in my heart, that youre really a part of me
Ive got you under my skin

Ive tried so not to give in
Ive said to myself this affair never will go so well
But why should I try to resist, when baby will I know than well
That Ive got you under my skin

Id sacrifice anything come what might
For the sake of having you near
In spite of a warning voice that comes in the night
And repeats, repeats in my ear

Dont you know you fool, you never can win
Use your mentality, wake up to reality
But each time I do, just the thought of you
Makes me stop before I begin
cause Ive got you under my skin

Vou cantando o dia e logo, quando nos encontrarmos, vou abrir a boca de espanto (outra vez)! :)
S.Star

Saturday 4 August 2007

Roni

Porque tudo o que queres/é alguém para amar./Uma sombra,/um chão devagar./E tudo o que tens/é um nada a perder./Um segredo,/mais uma noite a vencer.
Mais uma noite a vencer, Pedro Abrunhosa

Querido Peixe,

Andava eu pr'aqui toda triste carpindo o depressivo 2007, entre maleitas e coração-partido, e afinal mesmo à minha beira (à distância de 2 paragens de metro) estava também ela exorcizar o maldito do ano.
Conheci-a numa festa de aniversário da D.Herrero Inácio, sei lá há quanto tempo!
Lembro-me de entrar no quarto cheio de teenagers sentados na cama e de vê-la ajoelhada a escolher um CD: era a única ali dentro que parecia saber o que queria da vida e como alcançá-lo.
Reconheço hoje, e à distância que a relatividade do tempo permite, que me senti intimidada perante tal certeza e que recusei o embate-de-frente que se me oferecia. Eu era mais velha do que ela, mas não estava preparada para enfrentar a força dela. Estava a batalhar noutra frente e naquela altura da minha vida não tinha capacidade para mais.
De todas as pessoas que estavam naquele dia naquela casa, é dela que tenho a lembrança mais nítida e, no entanto, foi a ela quem escolhi virar as costas.
Fosse hoje e seria para ela quem eu correria, qual alma que se reconhece gémea.

Admiro-a como admiro a minha mana, ou como me admiro a mim (que se lixe a falsa modéstia, não tenho tempo nem paciência para isso), porque é forte.
Da força de que são feitas as pessoas inteligentes, e determinadas, e audaciosas, e lutadoras, e belas, e carismáticas.
Da força de que são feitas as pessoas apaixonadas pela vida num amor coeso e coerente, desse amor que dá luta e que vai luta.
E há tão poucas pessoas assim...

Sabe, peixinho-dourado, às vezes dou por mim a pensar na razão pela qual ela veio ter comigo, eu que me sinto culpada por, décadas atrás, tê-la preterido a pessoas vazias e fracas.
E, se ela estivesse aqui connosco, pedir-lhe-ia perdão e, se ela ainda o quisesse, aceitaria o desafio de lutar lado-a-lado.

E como o segredo é que nada se perde, mas tudo se transforma, e como tudo o que mais queremos é alguém pr'amar, dança comigo?
S.Star