Carta ao Peixe/ Writing to Mr.Fish

«Deus não nos deu um espírito de cobardia, mas um espírito de poder, de amor e de bom juizo.» «For God hath not given us the spirit of fear; but of power, and of love, and of a sound mind.»

Monday 27 September 2010

...
percorre-me o corpo
com a ponta dos dedos,

desliza a língua
pelas costas,
enlouquece nas curvas
ganha fôlego
no declive

pousa-te
na minha nádega...
deixa-me ofegante

...

S.Star

Wednesday 22 September 2010

Reencontrei-te
agachado nas minhas entranhas
O que fazes aí?, quis saber

(haverá purga que te faça sair?)

Estás gordo e farto,
tens ar de quem soube
comer a carne e chupar o osso

(haverá purga que te faça sair?)

Fumaste-me os pulmões
e arrotaste-me o coração,
lavaste-te no meu sangue,
foi sabão o meu rim
foi toalha a minha pele

(haverá purga que te faça sair?)

Reencontrei-te
agachado nas minhas entranhas
O que fazes aí?, quero saber

S.Star

Monday 13 September 2010

Não sabes, amor, que vives no meu peito?
A cada pulsação, a tua carícia,
No meu sangue corres tu para sempre...

trago-te em carne viva
no céu da boca

Não sabes, amor, que és o meu tempo infindo?
À minha sede, o teu olhar
À minha fome, o teu beijo

Não sentes, amor, a dor da saudade?
Cada ai, tatuagem na medula
O teu nome, bala de prata
presa no meu cérebro

trago-te em carne viva
no céu da boca

Friday 10 September 2010

Beijar-te(nos)



toque de lábios,
beijo leve
Sentes o ai?

beijo tímido, a crescer desejo
tremo por ti, o corpo encurva-se no teu
beijo firme, faminto, aberto
beijo sôfrego, apaixonado, rendido

entrega.

No caminho de ti

Querido Peixe,

Assemelha-se a um ai a eternidade que vivemos...

Será que ele se recorda?...
E fomos andando pela cidade, falando de nada num breu da noite, no caminho das pedras e dos candeeiros. A noite acarinhou-nos, os candeeiros debruçados sobre nós envolviam-nos um ao outro e a calçada embalava-nos.
Ficámos um do outro.
Terá sido para sempre?

Conseguirá ele calcular o quanto-tanto o amei?
Conseguirá ele imaginar como o sonhei a tornar-se no potencial que ele era?

Andar de mão dada, dadas em laço, a minha na dela, a dele à minha.

S.Star

Wednesday 8 September 2010

Querido Peixe,
este tremor que nasce no centro do coração e que percorre em ondas o meu corpo, o que é?...

Trago-o apertado no meu peito.
Quero que saía duma só vez, de uma vez por todas as vezes em que tem estado enrolado ao meu coração.
Mas não sai.
Sai!, peço-lhe.
Que saia para que eu o veja, para que eu o reconheça - se é ele ou se é o outro quem me consome.
(que purga haverá que o obrigue a sair?)
E quando dei conta, esticou os braços e estrangulou-me o cérebro, esticou as pernas e fez-me tropeçar.
Caí.
Caí numa espiral a preto-e-branco, sempre a rolar.

S.Star

Tuesday 7 September 2010

Choro

Querido Peixe,
E de repente, irrompi um choro perdido, sem fim, sem tréguas, sem limites...

Chorei o mundo, o meu mundo, o mundo dele, o nosso mundo.
Chorei doce, chorei salgado
chorei tanto, chorei amargo.
Chorei gritos e discussões, chorei beijos e reconciliações, chorei sonhos, chorei desilusões
chorei lágrimas, chorei risos, chorei mágoas, chorei orgasmos, chorei dor, chorei desejo.

Chorei-me a mim, chorei-me a ele, chorei-me a nós.

Chorei pulmões e o coração, e chorei o estômago e as entranhas,
virei-me do avesso e, de costuras à mostra e em carne viva, continuei a chorar...

Chorei, porque o quis e tive-o
chorei, porque fui sua e perdi-o
chorei, porque amei-o e amá-lo-ei para sempre
e chorei, porque não sei se o amo...