Carta ao Peixe/ Writing to Mr.Fish

«Deus não nos deu um espírito de cobardia, mas um espírito de poder, de amor e de bom juizo.» «For God hath not given us the spirit of fear; but of power, and of love, and of a sound mind.»

Thursday 8 February 2007

"Nim" ou o referendo de 11 de Fevereiro de 2007

Lindo Peixe,

A faltar 3 dias para o referendo, pronuncio-me finalmente sobre o assunto.
E à cabeça, quero já dizer-lhe que discordo de toda esta "treta" de campanhas partidárias e propaganda, de debates e discussões: só servem para gerar (ainda mais) confusão, para criar juizos de valor e fomentar ódios.
Informação que é bom nicles.
Quero saber:
1- Qual é a pergunta que se faz no referendo?
Eu já ouvi tanta coisa... despenalização da mulher que faz o aborto, despenalização e legalização do aborto...
2- No caso da maioria decidir o "Sim", qual a proposta de lei que o governo tem preparada para substituir a actual lei?
3- Como se faz o combate ao aborto clandestino? Há agentes infiltrados nos hospitais e nos centros de saúde, à porta das consultas de planeamento familiar, a tentar descobrir quais são as mulheres que querem abortar? Há gentes inflitrados nos locais de trabalho a ouvir as conversas dos homens que não querem ter (mais) um filho?
4- Por que razão é a mulher penalizada quando é preciso um casal para fazer um filho? Família, não há? Direito da mulher a decidir fazer do corpo dela o que bem entende quando no momento em que decide ter um filho está a colocar o corpo "ao serviço" da família?
5- O que acontece a uma mulher quando um aborto corre mal? É assistida no hospital? Vai logo para a esquadra?
6- E o que acontece quando uma mulher, ou um casal, quer entregar o filho para a adopção? Os serviços estão preparados para assistir os pais biológicos e os pais adoptivos?

Há tantas perguntas para fazer... e tão poucas respostas...
E, como em qualquer matéria, se as queremos obter temos de procurar informação, escolher e fazer uma análise final. Só que neste assunto a análise carece dum empenho de todas as nossas capacidades cognitivas, porque implica a mente, e o sentir, e o físico, e o outro, e...

Se votar sim, estou a despenalizar quem faz um aborto, mas estarei a abrir a porta para a legalização do mesmo e à sua prática como método de planeamento familiar.
Se votar não, o meu juizo de valor condenará mulheres por algo que acredito não ser crime, mas impedirei que a prática do aborto se torne um método de planeamento familiar.
Este referendo é uma questão de consciência, mais do que uma questão de vida.

Para mim, peixinho-d’ouro, a questão da Vida nem se coloca: a vida é uma bênção de Deus, assim como o é o livre-arbítrio. Aliás, este último é, a meu ver, a maior bênção de Deus, porque sem a liberdade de escolha jamais poderíamos conhecer Deus nem aceitar Jesus como o caminho, e a verdade, e a vida.

Pelo “nim”,
Sua S.Star

Thursday 1 February 2007

Sob o signo da trombose

Querido Peixe,

Na madrugada de terça-feira, cheia de frio e de dores lacinantes, lá fui eu a caminho do hospital sob o risco de uma trombose: as pernas e as mãos para-lá de inchadas (as mãos a parecer um pé de hobbit), todas as veias e varizes duras como um bloco de mármore, sintomas de gravíssima insuficiência venosa.
Chegada ao hospital e depois da triagem, eis-me com uma pulseira de papel verde e a esperar a minha vez numa sala quase vazia. Será que vai demorar muito?, perguntei-me desesperada...
Subitamente e a cortar o silêncio eterico da sala, um velho desata a refilar e a excomungar enfermeiros, médicos, pessoal administrativo, governo e sei-lá-mais-quem.
Imagina o que passou a seguir, verdade?
Pois claro, "Revolta na Bounty" versão hospital - ele era o moço que responde ao velho dizendo-lhe que estava lá desde as 23h, ela era a jovem mulher que se queixava de tensão alta (por que seria?!!), ela era a velhota que tinha os intestinos inchados (tinha ar de quem adora a boa da feijoada e se baba por tudo quanto tem colesterol). Das poucas pessoas que estavam ali, apenas eu e outra moça estavamos noutra dimensão (a da dor, presume-se).
E qual não é o espanto geral (e a minha alegria) quando o altifalante diz o nome desta estrela congelada, que foi a última a chegar à sala!
Acabou-se o motim. Fugi para o Gabinete de Observação 7.

Desejo o calor.
Em processo de degelo,
S.Star