Carta ao Peixe/ Writing to Mr.Fish

«Deus não nos deu um espírito de cobardia, mas um espírito de poder, de amor e de bom juizo.» «For God hath not given us the spirit of fear; but of power, and of love, and of a sound mind.»

Friday 23 March 2007

Vamos acender uma vela

Querido Peixe,

Isto cada um faz o que quer e bem intende e cá para mim, desde que não haja violação dos Direitos/Liberdades/Garantias do outro, está tudo muito bem.
Está tudo muito mal quando os desejos e intenções de alguém invadem a liberdade* de outrém e são concretizados sem o seu consentimento.
Por isso e por tudo, acenda uma vela contra a pornografia infantil em www.lightamillioncandles.com.

Obrigada,
Sua S.Star

* liberdade de espaço, de pensamento, de existência.

Thursday 22 March 2007

Um Chá no Deserto

(em jeito de post-it)

Peixe-d'Ouro,

Um dos meus (muitos) filmes predilectos é Um Chá no Deserto.
Quando comecei a vê-lo pensei que seria mais um "daqueles" filmes chatos em que o John Malkovich dá seca (pronto, eu não gosto deste gajo), mas a dada altura passa-se qualquer coisa, que ainda hoje não consigo definir, e o filme cativa-nos, aliás, captura-nos* e passamos a ser tão reféns do destino quanto as suas personagens. Será pela imagem, que é tão real que parece que a nossa sala se enche de poeira? Ou será da música de Sakamoto, que é tão ilusão que parece que vivemos num sonho? Ou será pelas personagens, que estão tão "abandonadas" quanto nós quando estamos sozinhos/sós?

Dê um pulinho ao CCB no dia 26 de Março e veja (ou reveja) este filme.
Começa às 21h. Não perca, que vale a pena.
Eu tenho o filme em casa, vou vê-lo aqui, já que não posso sair.
S.Star

*brinco com o capture inglês, que significa capturar/prender/aprisionar/ (pessoas) ou captar imagens, mas que agora os senhores jornalistas, que não sabem inglês, usam para dizer "capturar imagens".

Tuesday 20 March 2007

Os meus pés...

Querido Peixe,
Está a melhorar, o pé esquerdo...
Mostro-lhe mais progressos quando o tornozelo (não tive coragem de fotografá-lo) estiver mais "apresentável".
Sua,
S.Star

Monday 19 March 2007

Apetece-me mimos...

(hoje, fui ao médico para renovar a baixa... mais um mês em casa... ai, ai)

Peixe-querido,

Pr'aqui estou eu, de perna elevada a ver se os hematomas passam de negro a vermelho (e de vermelho a rosa) e a ouvir a rádio Oxigénio (102.6 "Why can't I make you high?") para me imaginar no Lux rodeada de gente linda a querer-me em apetite.
Pr'aqui estou eu a ficar formosa com os petiscos da mami enquanto recorto imagens de sítios a visitar assim que puder andar; pr'aqui estou eu a ver a Oprah a conversar com duas mulheres lindas que se amam de paixão e a ver a Cameron Diaz a dançar em São Francisco, colina acima, enquanto a amiga fica com o pénis do amante preso na boca; p'raqui estou eu a pintar a família em aguarelas e a pensar no dia em que sairei à rua acompanhada da minha Lomo.
Pr'aqui estou eu a ler livros atrás de livros, agora é a vez de "Moby Dick" que é muito mais giro do que "O chão que ela pisa" (o Salman Rushdie que me desculpe, mas a leitura estava tão entediante que saltei do meio do livro para o fim de consciência tranquila... já não aguentava mais aquelas divagações da Vina e do Ormus, safa!).
Pr'aqui estou eu a fazer teletrabalho para não perder o emprego e a ver o mundo pela internet cheia de saudades de entrar nas lojas... ai, ai, e são livros novos, e são perfumes novos, e são as colecções de primavera-verão de roupa, acessórios e maquilhagem!

Ó peixinho-querido!, bem sei que hoje é o seu aniversário, mas eu cá estou mesmo a precisar de atenção, de "cuidados intensivos" feitos visitas com mimos e prendinhas, ou feitos telefonemas intermináveis dum Big qualquer.
Apetece-me receber um presente da Benefit Cosmetics (veja lá se o creme da foto não é lindo) ou da Paul and Joe, ou uns bombons de violeta da Fauchon, ou um perfume cor-de-rosa da Yves Saint Laurent, ou um sabonete da Claus, ou uma sombrinha da Fun&Basics, ou umas sabrinas da Lacoste, ou o novo CD dos Air. Apetece-me ser resgatada à ruptura de ligamentos por aquele Big e ir lanchar a Sintra, à casa de chá Raposa.

Para si, um feliz aniversário
Beijo,
S.Star

Óptimas prendas:
www.benefitcosmetics.com
www.paul-joe-beaute.com
www.clausporto.com
www.fauchon.fr
www.mariagefreres.com




Thursday 15 March 2007

Tempo cor-de-rosa

(foi-se o gesso, ficou o pé, que está negro e inchado, e qualquer dia chega a primavera... os pássaros já andam contentes!)
~* * *~
"Também vou", disse Peter, mas deixou-se ficar sentado mais um pouco. Que terror é este? que exaltação é esta? pensou ele para consigo mesmo. Que é isto, que me enche de uma incrível emoção?
É Clarissa, disse ele.
Pois ela estava ali.
último parágrafo de Miss Dalloway, Virginia Woolf (edição Relógio d'Água)
~* * *~
Querido Peixe,

Houve alguém que um dia me escreveu que "... a imaginação do tempo que te é cara."
E terá sido com este pensamento que, num acto puramente altruísta, resolveu oferecer-me um exercício de tempo: horas, e dias, e meses para imaginar a sua vida longe de mim.
É um exercício-e-pêras, este de imaginar o que terá acontecido a alguém que, tão inesperadamente quanto um AVC, desaparece. Imagina-se que teve um acidente, imagina-se que foi assaltado e está caído algures num beco escuro, imagina-se que algum familiar teve um acidente, enfim, imagina-se que houve um revês tão grave na vida dessa pessoa que a impossibilita de contactar aqueles que desesperados procuram notícias.
Isto de ter formação em História torna-nos detectives e aquele alarme do onde-foi-que-já-vi-isto-antes dispara ao mais leve indício de trama.
Aprende-se que o comportamento humano repete-se ao longo da História e esta pessoa não foi, nem será, a primeira a ter um "gosto especial" por este tipo de exercício de tempo.
Abre-se o compêndio e lá está:
"Exercício de tempo: Desapareci-e-agora-imagina-o-que-é-feito-de-mim.
Modo de resolver: perceba que o outro está bem de sáude; perceba que trata-se dum modo de afastamento; prossiga com a sua vida, gozando-a em pleno."
Fecha-se o compêndio.
E manda-se o tal exercício de tempo à merda. E, à moda dos Antigos, manda-se também à merda o mensageiro.
É verdade que adoro imaginar o tempo e, sabendo disso, houve outro alguém que me ofereceu o próprio tempo!
Agradeço à Miss Always, o relógio é tão bonito quanto ela e sinto-o na minha pele tanto quanto a sinto a ela!
S.Star num tempo swatch cor-de-rosa

Thursday 8 March 2007

Respeito

(o gesso está deixar-me louca...)

Querido Peixe,

Não sei se já lhe disse que quando o meu pai morreu houve familiares nossos que se afastaram, familiares tão chegados quanto uma irmã é dum irmão, quanto primos-de-sangue são queridos.
Quando morre alguém que se ama sabe-se que as saudades serão eternas (o termo inglês everlasting é muito mais forte) e será impossível de "matá-las".
Quando morre alguém que se ama nunca se está preparado para esse arrancar-pedaço-de-nós e nem todos conseguem lidar e superar uma mutilação, que é física, porque sente-se uma dor no coração exactamente como se se tratasse dum enfarte do miocárdio (ou qualquer outro nome científico).
Fica-se mutilado e deficiente e, como com todas as deficiências, há que escolher uma das duas opções : ou enfrenta-se a "fera" cara-a-cara e de cabeça erguida, ou ignora-se que ela existe e evita-se a todo o custo qualquer relação com a cuja dita.
Escusado será dizer que a curto e médio prazo a última opção parece ser a mais fácil para "remediar" a dor.
Mas, qual analgésico (eu diria mesmo, placebo), apenas inibe os mecanismos que causam a dor e não a trata. E claro, quando se evita a visita ao médico para solucionar o problema, toma-se cada vez mais doses de analgésicos até que um dia fica-se dependente deles.
A primeira opção é a curto prazo mais díficil, tão difícil que rasga o corpo, a alma e mente.
Mas, a médio e longo prazo é que a única que apazigua, e conforta, e liberta.
É exactamente como quando éramos miúdos e havia um puto qualquer que, sem motivo, teimava em bater-nos, e batia, batia, batia. Batia até ao momento que lhe fazíamos frente.
Lembra-se?
E o que acontecia depois?
Pois... até podíamos apanhar a sova da nossa vida, mas o sacana do puto jamais nos voltava a tocar.
Porque ganhou-nos respeito.
Respeito.
O tal que cantou Aretha Franklin R-E-S-P-E-C-T.
Mas, sabe o que é mais engraçado nisto tudo, peixinho-meu?
É que em todas as situações da vida há sempre a escolha entre as tais duas opções e, na maioria das vezes, a maior parte das pessoas prefere virar as costas... ignorar.
Não têm respeito por elas próprias e não se dão ao respeito.
Não admira que a vida seja "madrasta" e não os respeite.

E, de vez em quando, reconhece-se que se virou as costas a Deus e oferece-se flores às estrelas...

beijo,
S.Star

Thursday 1 March 2007

Dama das Camélias

(na cadeira de rodas e de perna engessada, faço os possíveis para sorrir...)

Querido Peixe,
Começo a acreditar que a gripe das aves é, de facto, uma ameaça real: alguém espirrou na China e derrubou-me aqui em Lisboa, fazendo-me cair e ficar em casa 3 semanas com uma ruptura de ligamentos no tornozelo esquerdo.
A Queda já foi na 5ªFª passada, mas só hoje é que tive vontade de contar-lhe que estou prisioneira das circunstâncias e à mercê da graça da mami. Obrigada, mami, és maravilhosa!
Escusado será dizer que quando apanhar a tal pessoínha que espirrou espeto-lhe um tronco de pinheiro pelo cú acima (o Drácula orgulhar-se-ia de mim)!
A bem dizer, parece-me que também o esfolarei, porque passei o meu aniversário (foi no dia 24 de Fevereiro) qual Dama das Camélias recebendo a visita do Armando!!
Já não me lembro muito bem da história, por isso corrija-me se estiver enganada, mas só depois da gaja morrer é que o sacana se "lembrou" de que gostava dela, não foi?
Se foi, foi lá nessa história, eu até tenho o CD da música da "Dama das Camélias"*, mas o Armando que tenha paciência, porque eu não vou morrer para vê-lo amar-me. É que nem pensar!
Afinal, eu prefiro Shakespeare e já anda aí um Romeu pronto a beber veneno por mim ;)

Sabe, peixinho, há Alguém que me ama de paixão e que satisfaz todos os desejos do meu coração...
E amor assim não se pode recusar, verdade?

Sua super-sexy-engessada
Sandrita Star

* Música do Luís Pedro Fonseca, na capa a Sofia Aparício.