Carta ao Peixe/ Writing to Mr.Fish

«Deus não nos deu um espírito de cobardia, mas um espírito de poder, de amor e de bom juizo.» «For God hath not given us the spirit of fear; but of power, and of love, and of a sound mind.»

Saturday, 4 August 2007

Roni

Porque tudo o que queres/é alguém para amar./Uma sombra,/um chão devagar./E tudo o que tens/é um nada a perder./Um segredo,/mais uma noite a vencer.
Mais uma noite a vencer, Pedro Abrunhosa

Querido Peixe,

Andava eu pr'aqui toda triste carpindo o depressivo 2007, entre maleitas e coração-partido, e afinal mesmo à minha beira (à distância de 2 paragens de metro) estava também ela exorcizar o maldito do ano.
Conheci-a numa festa de aniversário da D.Herrero Inácio, sei lá há quanto tempo!
Lembro-me de entrar no quarto cheio de teenagers sentados na cama e de vê-la ajoelhada a escolher um CD: era a única ali dentro que parecia saber o que queria da vida e como alcançá-lo.
Reconheço hoje, e à distância que a relatividade do tempo permite, que me senti intimidada perante tal certeza e que recusei o embate-de-frente que se me oferecia. Eu era mais velha do que ela, mas não estava preparada para enfrentar a força dela. Estava a batalhar noutra frente e naquela altura da minha vida não tinha capacidade para mais.
De todas as pessoas que estavam naquele dia naquela casa, é dela que tenho a lembrança mais nítida e, no entanto, foi a ela quem escolhi virar as costas.
Fosse hoje e seria para ela quem eu correria, qual alma que se reconhece gémea.

Admiro-a como admiro a minha mana, ou como me admiro a mim (que se lixe a falsa modéstia, não tenho tempo nem paciência para isso), porque é forte.
Da força de que são feitas as pessoas inteligentes, e determinadas, e audaciosas, e lutadoras, e belas, e carismáticas.
Da força de que são feitas as pessoas apaixonadas pela vida num amor coeso e coerente, desse amor que dá luta e que vai luta.
E há tão poucas pessoas assim...

Sabe, peixinho-dourado, às vezes dou por mim a pensar na razão pela qual ela veio ter comigo, eu que me sinto culpada por, décadas atrás, tê-la preterido a pessoas vazias e fracas.
E, se ela estivesse aqui connosco, pedir-lhe-ia perdão e, se ela ainda o quisesse, aceitaria o desafio de lutar lado-a-lado.

E como o segredo é que nada se perde, mas tudo se transforma, e como tudo o que mais queremos é alguém pr'amar, dança comigo?
S.Star

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