Dicionários & Gramáticas
Querido Peixe,
A pedido de muitas famílias, reabilito uma das cartas que lhe escrevi em 2004 - esta foi no dia 7 de Maio - cujo conteúdo continua (sempre) actual.
Um Kiss,
S.Star
***
(entre dicionário, gramática e prontuário, a teclar furiosamente…)
Ainda no outro dia, estivemos a conversar sobre o poder que é falar para os outros, escrever para os outros. Está recordado?
Tal como todos os poderes, este também pressupõe direitos e deveres, porque a autoridade é proporcional à responsabilidade.
Ora, eu tenho verificado que quem fala-e-escreve-para-os-outros está abusando do poder que lhe foi confiado: autoriza o erro e foge à responsabilidade de o perpetuar dia após dia.
Trocado por miúdos, diz-se e escreve-se erro atrás de erro e a malta, que já não é muito dada ao Português, fica toda contente, porque, afinal, o que o “cromo” lhe explicou ser erro não é. Nem mais. E o cromo continua a ser colado na “caderneta”.
Escreveu o apóstolo Paulo, na Carta aos Romanos, que a fé é pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus (Romanos 10:17).
Queria ele dizer, e muito bem, que a aprendizagem se faz ouvindo. Pois claro, então, quando se quer fixar uma mensagem escrita não é costume lê-la em voz alta? Lembra-se de como aprendeu a tabuada? Ora aí tem.
Continuando o raciocínio de Paulo, presta-se atenção à voz de quem? À voz das pessoas que reconhecemos como autoridade em determinadas matérias. O professor (bom, nem sempre…), os pais e os avós (duvido que as crianças ainda prestem atenção aos pais… ou vice-versa, mas enfim), aos escritores, ao músico predilecto, ao pivot do telejornal, ao médico, e o rol é grande.
Até aqui, parece tudo muito bem, não é?
Pois, o problema surge quando os potentados vão “de encontro” à Língua e, de choque-em-choque, permitem que os outros (a malta) “deiam” cabo dos cromos do Português que, desacreditados, nem para a troca servem.
Peixinho-meu, já se deu conta de que qualquer dia acordamos no “hades”, sem possibilidade de redenção? Até lá, é preciso “dá-le” muito no dicionário e na gramática…
Sua,
S. Star
(e mais um cromo para a sua colecção :) )
6 Comments:
Peixinho,
E para que as pessoas percebam que está aí a ler-me, deixo o post que me escreveu nessa altura:
Minha peixinha (ou star ou starzinha, como lhe der mais prazer), Para não variar, concordo consigo ao milimetro. O português é, de facto, a grande vítima da contemporaneidade. Maltratado por uns, olhado com desconfiança por outros, desconhecido de quase todos, arrasta-se penosamente pelas páginas dos jornais do burgo. Mas não só. Ver os chamados jornalistas de televisão (que eu prefiro chamar de entertainers) exercitar o dom da língua é uma tortura com um grau de masoquismo bastante apreciável. Se houvesse um Sade português, certamente que rejubilaria com o autêntico murro no estômago que é ouvir os ignorantes das televisões. Iletrados, impreparados, jovens e inimputáveis, desenham a farsa do jornalismo televisivo nacional. A traços muito largos e cavados. Um beijo (também ele muito cavado e repleto de impreparação e inimputabilidade), Fernando
Bom, já agora, a minha resposta:
Gosta de História? Eu cá adoro. A História, a história e as histórias, a estória e as estórias. Todas. Porque a História, à semelhança da Psicologia, é uma ferramenta (poderosa)da maior utilidade para analisar a personalidade humana e da Humanidade.
Ao ler o que escreveu sobre os "animadores de tempos livres", lembrei-me de imediato do Império Romano.
Quando Roma se tornou um império (só com Octávio César Augusto)já se encontrava na fase de maturidade, quase a cair na saturação/decadência (está ver a semelhança? Tal como os seres vivos, também as civilizações nascem, crescem, atingem a maturidade e morrem).
Longe ficavam os tempos áureos, agora o império estava a braços com... a crise. Pois é, isto de manter o "limes" (nome dado à fronteira) exigia dinheiro: sustentar administração pública e exército; pagar aos "bárbaros" para que se mantivessem para lá do limes, pagar aos colonos para se manterem deste lado do limes e, deste modo, garantirem a posse das terras; gerir as cidades (lixos, águas, estradas, etc); enfim, gerir o império exactamente como hoje em dia se gere um país.
Ora bem, com a falta de dinheiro houve necessidade de fazer cortes no orçamento e, tal e qual como nos dias de hoje, as terras longe da metrópole foram as mais sacrificadas. O limes começou a ser uma linha ténue, já que os "bárbaros" começaram a ser pagos com terras, o exército mal pago perdia força, administração local esquecida...
Todavia, os impostos continuavam a ser cobrados e para manter Roma longe das incómodas questões ("onde é que está o dinheirinho? ainda somos os maiores?"), os imperadores criaram manobras de diversão: os gladiadores, as corridas, as batalhas navais (enchia-se os coliseus com água e reproduzia-se as batalhas navais). E quanto mais perto da ruína, mais sangue Roma exigia. Em pura alienação.
Sabe do que mais gosto na História? De saber que, com ligeiras diferenças, a História permite-nos antecipar o erro... Posted by: S.Star at maio 11, 2004 11:05 AM
Frustação é tudo o que transparece no seu blog.
Encontre o verdadeiro caminho,inpire-se e deixe de por as culpas nos outros.
afinal, esta´ tao longe de Deus e da realidade.
Felicidades
Caro/a,
A culpa é inteiramente minha!
A frustação também e Deus está em cada um de nós.
Quanto à realidade, as contas para pagar, as viagens no metro e no autocarro, as 8h diárias (por vezes mais) no emprego, o chefe e os colegas, as filas no supermercado e a prestação da casa para pagar não me deixam ficar longe dela... quisera eu!
O verdadeiro caminho foi encontrado (João 14:6), a inspiração é que tem faltado - obrigada pela chamada de atenção ;)
Mesmo correndo o risco da escrita permanecer no mesmo tom, volte outra vez! :))
S.Star
E ainda que este blog fosse um espaço para despejar a frustração da autora, seria sempre interessante de ler, porque está bem escrito e porque é também uma forma de distrair a frustração de quem lê.
Repartir culpas sempre ajuda um bocadinho. A verdade das coisas é sempre relativa.
Sandrita Star, gosto muito de ler a tua visão do mundo. Conheço-te e sei que és uma pessoa corajosa, positiva e encantadora.
Um beijo,
A.
Miss Always,
E não fazem parte da História da Literatura esses grandes frustrados Fernando Pessoa e Camões? Um afogou o desamor na bebida, o outro morreu miserável e de nada lhe valeu vir a nado da Índia.
Vai-na-volta e ainda sou uma génia da literatura, ó Miss Always - ora vê lá se não é verdade: para além de ser uma frustrada como diz o(a) Caro(a), também sou uma alcoólica em recuperação (tadinho do Pessoa, no tempo dele não havia os AA) e sou duplamente deficiente - sou coxa e pitosga - ah! e nado muito bem, e consegui um subsídio para montar o meu negócio!!! Portanto devo ser muito melhor do que o Camões...
E ele que vá buscar, que é do catano!
Tua Star que te adora,
Sandrita de meu nome
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