Carta ao Peixe/ Writing to Mr.Fish

«Deus não nos deu um espírito de cobardia, mas um espírito de poder, de amor e de bom juizo.» «For God hath not given us the spirit of fear; but of power, and of love, and of a sound mind.»

Saturday 7 February 2009

Playmobil

(I'm not in the mood to write the english version; dear foreigner sir, mrs ou miss, please copy the above text into the google translator... thank you in advance)

Peixe amado,

Como já deve ter lido por aí, morreu o criador dos bonecos Playmobil, Hans Beck.
Eu li a notícia na edição online do Público e imediamente recordei os momentos absorventes que passámos nas brincadeiras com aqueles bonecos.
Não quero escrever um texto à memória do senhor Hans Beck, quero é partilhar consigo as minhas memórias, estas sim, dignas de relevo LOL.
Também teve bonecos Playmobil? Pois claro, quase todos os rapazes tiveram Playmobil, como quase todas as raparigas tiveram Barbies, ou na minha geração, Tuxas. Ou Tuchas? Desculpa, Tuxa, não me recordo de como se escreve o teu nome... mas, eu sou suspeita, pois arranquei-te as pestanas... olha, não sei por que razão o fiz, eu fui uma criança mentalmente saudável.

A Tuxa (decido escrevê-lo com "x") sofreu um bocadinho, ainda por cima foi preterida pela Nancy e mais tarde fugiu de casa por julgar que as Sindys a magoariam.
A Nancy era uma grandalhona ao lado da Tuxa "depestanada" e tinha mais estilo: roupa e acessórios criados especialmente para ela. Uma amiga da minha mãe, a Célia, ofereceu-nos o guarda-roupa que pertencera à Nancy da Paula (a Paula é a filha da Célia). Nunca soubemos o que aconteceu à Nancy da Paula... mas, eu e a minha mana não éramos metidiças na vida alheia, caso contrário quando a Paula foi visitar-nos a Londres teriamos feito um inquérito exaustivo. E, querido Peixe, teria seido fácil persuadi-la a contar a verdade, porque tínhamos algemas e armas como os polícias. Pronto, eram de plástico, mas a Paula andava tão encantada com Londres que nunca daria pela diferença.
Mas, dizia eu, a Nancy tinha estilo e ficou ainda mais fashion quando lhe cortámos o cabelo. Isso aconteceu num dia em que uns amigos nossos foram lá a casa e um deles, o Paulo, incentivou a mudança de visual da Nancy.
Em verdade, em verdade, a Nancy tornou-se num "dragking" com estilo. Deu muito jeito, porque as Sindys andavam desesperadas sem companhia e mais jeito deu quando chegou a Barbie, uma nova-iorquina independente e emancipada.

As Sindys eram lindíssimas, muito mais bonitas do que a Barbie, há que dizê-lo.
E elas sim, elas eram verdadeiramente modernas: eram mulheres louras de olhos azuis que dobravam os joelhos e cruzavam as pernas. Ah! e tinham umas t-shirts justinhas com nome Sindy estampado mesmo em cima das maminhas.
As Sindys vieram de Londres connosco e chegaram a Portugal em 1978. Tal como nós, acredito que tenham sofrido com o choque socio-cultural. Nós e as Sindys vivemos a era punk, vimos a Vivianne Westwood instalar-se, dançamos ao som do Elvis, vimos televisão a côres, corremos por Trafalgar Square e Picadilly Circus atrás dos pombos e ao lado de negros, indianos, chineses, italianos e tudo-e-um-par-de-botas. Chegámos cá e a única opção era sermos certinhas, nunca usar maquilhagem nem pintar o cabelo e portarmo-nos sempre, sempre bem.
Aliás, penso que as Sindys sofreram mais do que nós, porque cá em Portugal ninguém as conhecia. Nós ainda tínhamos a nossa família, mas elas, coitadinhas, só nos tinham a nós. E à Nancy. E ao Rafael e aos gémeos (num outro dia, falo-lhe deles, está bem querido Peixe?).
O que lhes valeu foi que, tal como nós, eram 2 irmãs unidas e isto ajudou-as a permanecerem confiantes perante a petulância da Barbie.

A Barbie veio com o meu pai de Nova-Iorque em 1981.
E é óbvio que veio destabilizar a família. Como todas as mulheres que se julgam as mais bonitas do mundo, reclamando por esse motivo a submissão de toda a gente.
Por esta altura, penso que a Tuxa já tinha fugido de casa. Não faço idéia do que lhe passou pela cabeça, porque as Sindys eram amorosas e nunca magoariam viv'alma. Nunca mais vimos a Tuxa. E de certa maneira, ainda bem, porque esta rapariga não teria aguentado a pressão da Barbie e ter-se-ia suicidado.
A Barbie era muito bonita, de facto. A pele da cara era macia, como nunca nenhuma boneca teve a pele assim.
Rodava metade do corpo e a cabeça, de cintura fininha, dobrava os joelhos e, claro, era peituda. Mamalhuda.
Tinha um guarda-roupa fantástico que as Sindys invejavam.
A Barbie misturava a modernidade das Sindys com o estilo fashion da Nancy.
Apenas que não era espontânea como as Sindys nem carismática como a Nancy, tão pouco tinha a auto-comiseração da Tuxa. Era, à moda americana, petulante.

Mas, cada uma com a sua personalidade e todas se entenderam e viveram felizes durante muitos anos.
Penso que o motivo foi terem tido, à excepção da Tuxa, um espírito livre, uma mente aberta e uma coragem à prova de bala.
Eram raparigas do mundo e mostraram-se sempre prontas para nos acompanharem em todas as aventuras.
Foram muito pacientes connosco, sobretudo quando as metiamos no carro dos Playmobil para irmos de viagem. E defenderam-nos sempre, como naquela vez em que não bufaram à polícia que tínhamos revólveres e pistolas escondidas no carro do Batman.

Durante muito tempo, as nossas colegas da escola não percebiam muito bem por que razão éramos as únicas raparigas que brincavam com bonecas e revólveres, com nenucos e carrinhos, com panelas e playmobil.
Ai, os playmobil...

Com muitas saudades dos meus amiguinhos,
Sua,
S.Star

P.S.: Hoje em dia, as Sindys e as Barbies estão muito diferentes do que eram há 30 anos. Dantes eram muito mais bonitas.
www.sindy.com

2 Comments:

Blogger paulo said...

olá sandrita
é uma especie de regresso ao passado...tardes de fim-de-semana chez-toi ou chez-moi.
nas pequenas grandes aventuras e descobertas de crianças.
fomos banqueiros endinheirados e senhorios de predios da baixa lisboeta e ás vezes montavamos do salão de cabeleireiro mais criativo das redondezas do Uruguai(que o diga a Nancy)

happy days
beijo
paulo

17/2/09 14:35  
Blogger Sandra Marques Augusto said...

Sr. Arquitecto,

"Recordar é viver" cantava Victor Espadinha(sim, penso que era ele) e, se na altura não compreendi o sentido, hoje é quase o meu lema LOL
Não que seja saudosista, mas que é tão bom folhear a memória qual livro preferido e escolher momentos tal qual se escolhe um poema ou uma frase...
Porque desses momentos fizeram parte pessoas que amámos e amamos e que estão a nosso lado, firmes-e-hirtos, dando-nos a mão - para nos agarrar quando corremos pra vida ou para nos puxar quando caímos.

E ainda que os anos passem, o melhor de tudo é encarar a vida como "uma pequena grande aventura e descoberta de criança"...

Eu ainda gosto, confesso-o sem pudores (sou uma desenvergonhada), de brincar e de jogar: monopólio, barra-do-lenço, malha, macaquinho-do-chinês, bonecas, tudo!!!

Kiss
S.Star

18/2/09 15:13  

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