Carta ao Peixe/ Writing to Mr.Fish

«Deus não nos deu um espírito de cobardia, mas um espírito de poder, de amor e de bom juizo.» «For God hath not given us the spirit of fear; but of power, and of love, and of a sound mind.»

Friday 15 August 2008

Londres, 16 de Agosto de 1977

Querido Peixe,

Há 31 anos atrás, num dia semana do mês de Agosto, sentei-me no sofá da sala da nossa casa de Putney para ver televisão - naquela altura, aqui em Portugal não era comum os televisores a côres, mas lá no reino de Sua Magestade a rainha Isabel II já quase todo o lar via a BBC a côres.
Perguntar-me-á o que tem a ver a televisão a côres com tudo isto. Pois tem e muito, digo-lhe eu.
É que naquele dia quando se ligou a televisão o programa que estava a dar era a preto-e-branco, até parecia que tínhamos regressado a Lisboa. E não só era a preto-e-branco como mostrava alguém a cantar e a dançar de uma forma agitadíssima.
Eu tinha 6 anos e já tinha passeado por Londres, de Putney a Oxford Street, de Picadilly Circus a PortoBello, de trás para frente e de frente para trás, atravessar rio e voltar atravessar rio, de brincar no parque nas margens do Thames, de ver punks e gente cheia de pierces e de cabelos pintados de verde, de visitar supermercados de portas automáticas e de andar de bus vermelho.
Tinha 6 anos e já tinha visto o mundo (LOL), mas nunca vira algo como aquela energia que estava a ver ali no televisor.
Fiquei fascinada por aquele homem e pela sua música, e pelo seu olhar e pelo seu sorriso, e pelas suas ancas a dar-a-dar.
Durante aquela semana foi vê-lo em filmes, em concertos e em documentários, sorriso dengue, olhar melancólico, corpo sensual.
Fiquei a saber que aquele homem que eu acabara de conhecer tinha morrido naquela semana. A sua música rock'n'roll enrolado em R&B, o seu nome Elvis Presley.




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