Uma manhã no Laboratório de Análise de Marcha

(estou quase a jantar, a mesa já está posta...)

Peixe-querido,

Foi há 30 anos que fiz a 1ª análise da minha marcha e que, ao ver-me em filme, tomei consciência de como eu ando e do impacte que isso tem nos outros.
Lembro-me de que pela 1ª vez na minha vida houve médicos que falaram realmente comigo e que, embora eles fossem ingleses e eu portuguesa, entendemo-nos perfeitamente. Lembro-me de que pela 1ª vez não tive raiva quando me pediram para andar-para-lá-e-para-cá e de que pela 1ª vez foi-me explicado a razão de ser daquele (e de outros) exame.
Foi um ano especial, aquele de 1977... Estavámos em Londres, em plena Era Punk, o Elvis Presley tinha morrido e eu sentia-me livre pela 1ª vez: viam-se cristas por todo o lado, havia gente de todas as raças e feitios, supermercados com portas automáticas e escadas rolantes, esquilos nos jardins, neve e gente de bikini no Hyde Park... havia tudo e niguém reparava em mim, como faziam cá em Portugal.

Hoje, fiz a 2ª análise da minha marcha e, contrariando todas as minhas expectativas, tomei de novo consciência de como ando e do impacte que isso tem nos outros...
Foi a 2ª vez na minha vida houve "senhores doutores" que falaram realmente comigo e, embora eu não perceba coisa alguma de medicina, ou de Física, ou de Bio-mecânica, entendemo-nos perfeitamente. E pela 2ª vez não tive raiva quando me pediram para andar-para-lá-e-para-cá e pela 2ª vez foi-me explicado a razão de ser daquele exame.

A manhã de hoje ficará registada na minha mémória como sendo uma (entre outras tantas, que eu sou muito abençoada por Deus) das mais felizes da minha vida.
Porque tive o privilégio de conhecer duas excelentes pessoas (e homens muito bonitos, diga-se a verdade), o Prof. Doutor João Abrantes e o Doutor Miguel Montez.
E porque tive o privilégio de ter uma igreja em peso a orar por mim e por saber que Deus os ouviu :)

A partir de hoje, vou "olhar com os pés" e o meu campo de visão expande-se graças ao Prof. Doutor João Abrantes, ao Doutor Miguel Montez e, claro, a Deus.

Obrigada...
Para sempre,
S.Star